Vejo nas folhas que há uma novidade sobre o poeta João Cabral de Melo Neto, retirada das memórias de Tereza Goulart, viúva de Jango. Só não é novidade para mim.
Ainda nos tempos do Substantivo Plural, de Tácito Costa, causei alguns arrepios quando contei esse fato. Até o cineasta e romancista pernambucano Fernando Monteiro precisou publicar um texto confirmando o que eu afirmara, para acalmar os ânimos duvidosos de um famoso poeta potiguar. Era tudo verdade.
João Cabral, poeta substantivo, ímpar, era funcionário de carreira da Diplomacia. Sofreu muita pressão da Ditadura, inclusive com transferências continuadas. Seu reduto preferido foi Sevilha, onde teve um pouco de sossego.
A pressão foi tanta que ele renegava o "Vida e morte Severina". Dizendo publicamente que era poesia pequena, melosa. Uma forma de atenuar o ferrão.
Lotado no serviço diplomático em Buenos Aires, ele recebeu a "incumbência" de relatar os movimentos do Presidente João Goulart, exilado no Uruguai, quando de suas visitas à capital da Argentina. A "incumbência" era ordem funcional.
Ou fazia ou fazia. E ele cumpriu. Relatava em que hotel Jango se hospedava, quantas visitas recebia, a duração das visitas, e se possível a identificação dos visitantes.
O coitado, vítima de uma cefaleia crônica, não criou qualquer problema para Jango. Criou para si mesmo. Mortificou-se, com uma velhice sofrida e dolorida.
O mal está na Ditadura, não nos perseguidos. E Cabral foi um dos perseguidos.
"Um galo sozinho não tece uma manhã/ precisará sempre de outros galos/. De um que apanhe esse grito/ e lance a outro"... João Cabral de Melo Neto.
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