O que tem a ver? Tudo. Vou explicar.
Na abertura do Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte, Karl Marx inicia referindo-se a uma citação de Hegel. "Hegel disse que os fatos marcantes da História, incluindo seus personagens, costumam produzir repetição". Voltando aqui, essa observação de Hegel criou um "truísmo" tipo lei histórica, com o enunciado "a História se repete".
Aí, Marx faz uma ressalva terrível, que também virou lei histórica: "Mas Hegel esqueceu de dizer que, ao se repetirem fatos ou personagens, o primeiro evento ou pessoa constitui a tragédia e a repetição é a farsa".
E foi mais longe, negando o postulado de que o exemplo favorece a assertiva, mas esmorece o argumento abstrato. Genial que era, exemplificou aprofundando a abstração. Napoleão, por Luiz Bonaparte. Maximillien Robespierre, por Louis Blanc. E outros eventos das montanhas e comunas repetidas.
O que tem Trump com isso? Tudo. Descobriu-se e divulgou-se ontem que Donald Trump sonegou impostos durante dez anos. Usando uma licença legal americana que permite ao proprietário de uma empresa, em prejuízo, deixar de recolher impostos.
Ocorre que Trump nunca pediu falência. Nenhuma dificuldade financeira dessas empresas, dezenas, impediu sua vida de nababo. Dono de edifícios e condomínios. Podre de rico. Aliás, podre de muito mais.
Onde entra Al Capone? Aí. O mafioso de Chicago matou inimigos, pressionou desafetos, comprou juízes, promoveu corrupção pública, contrabando privado, e nunca era condenado. Faltavam provas. Então, apareceu uma luz nas investigações. Sonegação fiscal. E Al Capone foi preso. E nunca mais se levantou da queda.
Al Capone é a tragédia e Donald Trump, a farsa. Semelhantes. Mas a farsa rasteja na tragédia, sob ela. Hegel e Marx, atualizados.
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