O Google não é a Britânica. Pode ser mais vasto, mais amplo, mais atual. "Porém, entretanto mas porém" falta-lhe o cuidado da honestidade intelectual. Na Britânica você aprende, lá sustenta-se a formação. No Google você pesquisa, lá chove e derrama-se a informação. Cuidado. Nem sempre a informação a mancheias traz consigo o zelo da formação.
Certa vez, num comício que eu fazia no Café São Luiz citei um verso do pastor alemão Martin Niemöller que diz: "Um dia eles vieram e levaram meu vizinho judeu, não falei nada porque não sou judeu,/ depois vieram e levaram um católico, não falei nada porque não sou católico,/ no dia seguinte vieram e levaram um comunista,/ não falei nada porque não sou comunista. Até que vieram e me levaram, aí não havia mais ninguém pra falar nada". Numa roda de pessoas presentes ao evento, um intelectual bem conhecido na cidade me corrigiu, como soube depois, dizendo que esse pastor nunca existiu e que os versos eram de Bertold Brecht. Brecht nunca escreveu esse poema. Mas, muitos vieram me cobrar.
No Google já vi esses versos: Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor da sua terra,/ a marca de sangue dos seus mortos/ e a certeza de luta dos seus vivos, atribuídos a Vital Farias. Não é dele. Como sei? Sei porque esses versos são meus. Vital Farias apenas os recitou, consta na capa do disco com o devido crédito. Vital não tem culpa, mas o Google tanto atribui a mim quanto a Vital.
Agora, vejo um texto horroroso recitado pelo presidente do Supremo Luiz Fux, na dobrada do ano, atribuindo autoria a Carlos Drummond de Andrade. Deve ter tirado do Google. Drummond nunca escreveu esta merda, felizmente; literatura que nem Branchu assinaria. Que Fux é uma fraude jurídica, todos sabemos. Mas ele deveria ter vergonha e não atribuir ao Poeta Maior um texto escrachadamente horrível. O próprio Fux seria um autêntico autor dessa porcaria. Cuidado com o Google.
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