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Esconderijo de silêncios (IV)

Januária adormeceu tranquila, naquela Sexta-Feira da Paixão. Não se pode dizer que tenha amanhecido na mesma tranquilidade no Sábado de Aleluia. O primeiro susto foi o "silêncio" do sino principal, aspeado por não existir silêncio singular.


Nenhuma badalada, nas horas do hábito. E se o hábito não faz o monge, os silêncios escondidos fazem os hábitos do lugar. Corre corre entre carolas e praticantes. Quem sabe do padre Salomão? Sumiu. Perguntas, questões, cochichos, informações desencontradas, cadê o padre Salomão?


Alguém sabia de algo, como diria Castilho da Redinha. Pois foi. Alguém sabia, seria esbanjado aos ouvidos e ventos mais um dos silêncios de Januária. O sacristão Teófilo, quase continuação do padre, que sabia de cor a missa latina, Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventudte mea,..(assim começava), contou o que houvera na madrugada.


Uma comissão viera e levara o padre. Grupo formado por um advogado, um padre, um agente da polícia e um parente do padre Salomão. Tudo motivado por denúncias de rompimento de preceitos sacerdotais. Teófilo ouvia tudo abismado. Havia uma papelada que foi entregue ao padre, com os motivos daquela inconveniente visita. O padre foi informado de que não estava obrigado a segui-los, porém, caso não o fizesse, tudo seria contado à população de Januária, na manhã daquele Sábado. Aceitando ir com o grupo, para Recife, só o sacristão ficaria sabendo. E Teófilo prometeu ao amigo padre que "seria um túmulo". Padre Salomão partiu e deixou o Sábado de Januária aos sussurros. O sacristão Teófilo virou alvo de assédios, perguntas e até ameaças. Mas, segurou um daqueles silêncios por algum tempo...só por algum tempo. Que não há língua de ferro que não enferruje. Depois, logo logo, a continuação desse ex-silêncio abatido em pleno voo... Januária tinha assunto pra desfrutar a Páscoa, mesmo com o sino silenciado.

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