Deu Zé Bodin, menomale. É assim o complexo de vira lata, assumido, filho do canil de Nelson Rodrigues, desse Brasil idiota, que vejo e comemoro a derrota do estrupício.
Tudo contido num quatro de terror, numa ribalta de horrores. Onde cada luz posta esmorece nas trevas estabelecidas. Na boca do palco, ao baixar o pano, a escuridão nem se curva para receber aplausos da ignorância.
Me vem à memória o diálogo final de "A Tempestade", a peça quase esquecida de Shakespeare. Próspero, conquistador da ilha onde pontificava Calibã, teve com o nativo o último embate diante da revolta do conquistado.
"Eras uma figura ignóbil e eu te dei compleição humana", disse próspero. "Mas a ilha era minha e tu ma tomaste". Respondeu Calibã. Ao que Próspero argumentou: "Mas eu te ensinei minha língua". E Calibã encerrou: "No que a mim só serve para nela eu poder amaldiçoar-te".
Pois é. Nós daqui somos a ilha de Calibã. Aprendemos a língua de Próspero, mas não aprendemos a lição de Calibã. Não amaldiçoamos a desgraça cultural que nos sufoca, nem a violência econômica que nos escraviza.
Porém, cada Próspero tem seu jeito. O último que estava lá não era apenas o mal da ilha, mas o mal da humanidade. Nós, Calibãs, após aprendermos a língua de Próspero, precisamos muito mais do que apenas amaldiçoá-lo na sua língua. Muito mais. Precisamos engasgar a sua língua, para resgatar e manter a cultura bruta e nativa de Calibã. (esse texto continua)
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