...e eu lamento e fico triste.
Nunca gostei da pompa besta das cortes ou dos palácios. Criticava e produzia ironias quando Renato Machado, na Globo, noticiava o nascimento de um príncipe inglês, e falava até sobre o cocô saudável do novo herdeiro da corte bretã.
Mas, sou um escravo da condição humana. Essa miserável e bela condição dos seres pensantes, que pensam serem superiores e terminam todos na mesma vala da insignificância, na mastigação voraz da Terra.
A Rainha da Inglaterra morreu. Lamento. Há, dela, na minha memória, um episódio nada heroico ou exuberante, que me fez seu admirador. Foi sobre a morte da sua nora, a princesa Diana. A corte inglesa estava sob ataque, e ela suportando bordoadas.
Ela decidiu sair ao desabrigo da rua. E havia um pátio grande com muitas flores, fotos, homenageando a princesa morta. Ela caminhou entre as flores e os presentes.
Nisso, ela viu uma criança com um ramalhete de rosas. Aproximou-se da menina e perguntou: "Quer que ponha lá"? A menina disse: "Não". Ela fez uma cara de tristeza ou decepção e respondeu: "Tá certo". Aí a menina disse: "Não é pra colocar lá, é pra você". O rosto dela transformou-se, de triste para gratidão, "Ô, muito obrigada". Recebeu o ramalhete e saiu vencedora.
A condição humana. Há um fosso entre a senzala e o palácio. Intransponível. O da senzala não vive, existe miseravelmente. O do palácio vive, entre o luxo e a desgraça humana. Porém, numa coisa terminam todos do mesmo jeito. Todos, da senzala ou do palácio, sem exceção, escravos do mesmo destino. A morte.
Contudo, o destino da vida não é determinante. Da morte, sim. Mas a desgraça da vida, na injustiça da desigualdade, é obra nossa. Dos que detém o poder de comandar e dos que sofrem esse comando sem a revolta de lutar.
Morreu uma Rainha. E o mundo continua vassalo da exploração.
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