E o que a distingue de Doutrina?
As fronteiras às vezes até se confundem, mas há diferenças fundamentais na essência. Ideologia, na acepção de rigor etimológico, é uma propositura ideal, que nega e confronta a realidade. Insurge-se contra o estabelecido, o mundo real, para negá-lo ou transformá-lo. Numa das teses sobre Feuerbach, Marx acentua que "até hoje os pensadores têm pensado o mundo social, estudando e dando respostas, mas chegou a hora de transformá-lo". A ideologia, nessa nova acepção, agrega o conteúdo programático. Isto é, um programa de gerência social estruturalmente oposto a tudo que se precedeu. Essa é a fisionomia teórica.
A Doutrina tem por alicerces conceitos de natureza moral, no rigor etimológico. Mesmo que, ao passar do tempo, foi agregando também adjetivações de natureza religiosa, cultural e política. O marxismo é uma ideologia. O cristianismo é uma doutrina. Enquanto a ideologia pressupõe a negação do estabelecido real, a doutrina funda-se no interesse disciplinar. Disciplina, aqui, não de natureza hierárquica, mas de natureza do aprendizado. Doutrinar é ensinar, na acepção originária.
E o que é o Fascismo? O fascismo é uma pseudo ideologia. O positivismo de Augusto Comte, estuário da nossa formação republicana, é um pré-fascismo. "O amor como princípio, a ordem como base e o progresso como fim". Daí saiu a frase bocó da nossa Bandeira. Tudo isso pra defender um regime centralizador, em torno de um líder sobre-humano e uma sociedade sob controle moral. Toda ditadura, de esquerda ou direita, é fascista. Porque o fascismo é fundamentalmente de natureza comportamental. Alguém pensa pelos outros. E os bocós o seguem.
O pai que é liberal com o filho e opressor com a filha é um fascista. Mesmo que defenda, na praça, ideias louváveis. Entendeu? O policial que agride um transeunte por ser negro é um fascista. Mesmo que também seja negro e nem saiba o que é fascismo. O rico que tem nojo de pobre é um fascista. O fascismo não é ideologia. É moléstia da psicopatia.
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