Mais uma personagem de uma época que começa a ficar deserta. A última vez que estive com ela foi na sua casa. Cortez me transmitiu o convite dela, e eu fui. Lá estavam o Juiz Antônio Lúcio de Góis e outros amigos do casal. Cachaça, tira-gosto de milho cozido e feijoada.
Num determinado momento, eles chamam uma adolescente e mandam que ela me dê um abraço. Dona Aída diz: "Essa é a criança que eu levava na barriga naquela tarde de Domingo, na Casa do Estudante".
Papo boníssimo. Cortez era um conversador cativante, erudito sem ser posudo. Fora meu professor, com quem mantinha discussões acaloradas, em sala de aula. Até o assunto do meu discurso na Casa do Estudante, quando dona Aída foi até lá fazer a entrega de uma Kombi, saiu. Discurso que me rendeu uma prisão e condenação na Auditoria Militar, em Recife. Ela me visitou, na cadeia. No depoimento dela, na Polícia Federal, ela negou que tenha sido agredida. Disse: "Ele parecia recitar".
Período Médici, governador não tinha força para prender nem prestígio para soltar. Dona Aída Ramalho Cortez era uma figura doce. Saudade de uma época de trevas e sonhos, loucura e esperança.
Era menino, na época do grande governador e visionário em um momento delicado da vida nacional. Fui crescendo e tomando conhecimento do ilustre visionário. Homem silencioso e sagaz. Trouxe para o solo potiguar, culturas agrárias de Israel, implementou o grande projeto de Serra do Mel. Não enriqueceu, como muitos fizeram. Fato esse, que me foi revelado por um antigo professor da UFRN, durante um papo informal dentro de uma loja fornecedora de cópias, bem ali, ao lado do Arena das Dunas. Bom. Salve, salve ao senhor Cortez Pereira.
Alexandro de Aguiar Albano.