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Ocaso e cerveja

Foto do escritor: FrançoisFrançois

Atualizado: 2 de mar.


Envelhecer não faz ou desfaz ilusão/

não pede zelo, no desmazelo

do atropelo. Não./


É entre dores, saudades, confusões da mente/

a alegria de não ter morrido novo./

Só.


Será alegria?/ Ou apenas o consolo de ainda lhe restar/

o tempo escasso da sobremesa/ no banquete

miserável servido entre o fugaz sabor da vida?


Fugaz! Feito armadura num herói da mentira/ cuja espada

cai ante a vitória de um vencedor inexistente./


É isso? Não. Não é. A vida não é./

Qualquer verbo serve à definição da vida/

Menos o verso Ser./ A vida existe, resiste, desiste, consiste, mas não é/

A vida comporta todos os verbos,/ menos o verbo ser. A vida não É.


O velho se vê no espelho quebrado pela raiva do tempo./ Trincas são rugas./

Fugas da memória/ com a melancólica mentira do esquecimento.


Esquecer é doença?/ Não. É fuga./ Quase nojo do que persegue./ Do lembrar no que se ateve, ou deixou de atrever-se./


Mas, a constatação: Velho é a carcaça do herói que esqueceu de morrer novo./

E pra desvalor da própria vida,/ esbanja desmantelo de membros e cérebro.


Para o desfecho, volto ao título./ O ocaso da vida/ descendo nas quebradas do poente./

O sol esmorece desaquecendo até sumir./

Eu, insistente de heroísmo nenhum, perdi a chance de morrer novo/ tô vivo e contente,/ olhando pra morte e descrente,/ sem deuses pra rezar,/ sem preces pra orar,/ sem crenças de confortar,/ guardando as tardes, cada uma como seja./


Meu ocaso, minha tarde e a cerveja!





 
 
 

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