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  • Foto do escritorFrançois

Preciso precisar de

Não tenho, hoje em dia, muita paciência com crônicas de introspecção, auto comiseração e outros quetais. Até pela razão justificada de que o auto comiserado sempre deixa uma pontinha de dúvida sobre a honestidade da sua "modéstia".

Mas, ou porém entretanto mas porém, como diria Zé Limeira, vou de crônica neste texto.

Ríamos do paulistano, sem praia, só o horizonte azulado por trás do Colégio, no Pátio do mesmo nome, fundado pelo padre Manoel da Nóbrega, por ser ele, o paulistano, obrigado a ter de diversão apenas restaurantes, bares, padarias, supermercados. Depois chegaram os shoppings.

Pois pois. Agora, aqui estamos com um mar "que não tem tamanho", na vista que se esbanje desta Praia do Meio, a mais bela praia de Natal, e também a mais abandonada, sem ter pra onde ir.

Ou melhor, tem um lugar. Qual? O supermercado. Fico indo e vindo pra lembrar do que preciso. Na geladeira, falta nada. No banheiro, também não. Ah...falta pamonha.

Dito isso, qual o trauma da crônica? Sabe qual? Ver filas intermináveis de miseráveis nas agências da Caixa Econômica, que de econômica nada tem, em busca da esmola de emergência, que o Congresso estabeleceu em seiscentos reais, miseráveis, e que o governo do Guedes queria que fossem duzentos, mais miseráveis ainda. E eu reclamando de nada precisar.

Preciso ter vergonha. O país também. Mesmo que o país desavergonhado continue desgovernado por um governo sem vergonha.


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