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  • Foto do escritorFrançois

República do monturo...

Atualizado: 25 de abr. de 2020

...e se chafurdar no esgoto dos adjetivos a qualificação dessa república será tudo, menos pública e muito menos republicana.

Esperei ouvir opiniões, as mais diversas, sobre o desfecho da defenestração do ex-juiz e agora outra vez ex Sérgio Moro. Do mau uso da língua, dos enviesados jurídicos, do comportamento parcial, o paladino Sérgio Moro era tudo, menos um julgador sereno. A serenidade na sua postura e na sua fala não reflete a fisionomia lombrosiana que sua toga escondia.

Mas não se faz história do futuro. É do passado que se faz. E o presente é apenas uma lâmina da navalha cortando intenções e rasgando a roupa da hipocrisia.

Sérgio Moro trocou uma carreira na Magistratura, no auge da fama e popularidade, pelo canto de sereia de uma toga na mais alta corte do país. Há coisas que nenhum desmentido consegue esconder, essa promessa é uma delas.

Resumo. Trocou a carreira, legitimada por concurso público, por uma nomeação ad nutum, com demissão à vontade do nomeante. Tudo para cumprir o sacerdócio do combate à corrupção. Coisa que o Ministério da Justiça não tem competência, abrangência nem condições administrativas para realizar. Esse combate é da área policial judiciária, do Ministério Público e por fim do Judiciário. Ponto. Ele prometia uma ação impossível. E saiu sem ter sequer começado a tentar. Tudo só na conversa.

Ocorre que a nossa população, pré-povo, endeusa e sataniza numa rapidez que nem Deus nem o Diabo conseguem alcançar. Moro foi endeusado, como o fora Joaquim Barbosa, hoje esquecido. E Bolsonaro sentia ciúmes desse mito lhe fazendo sombra.

Parecia ao capitão que seu ex-juiz, para quem batera continência, queria voos mais altos. Inclusive o lugar do próprio capitão. E o pior, começava a ensaiar um processo de independência no trato com investigações que se aproximavam da família "real", o que tira o sono do capitão e dos seus pimpolhos.

O resultado foi o conhecido, com o desfecho de hoje. O que fez Sérgio Moro, agradeceu e despediu-se? Não. Jogou merda e muita no ventilador de Bolsonaro.

O depoimento do ex-juiz é um libelo acusatório pronto e acabado para iniciar qualquer investigação ou procedimento criminal contra o presidente da república. Ou procedimento político de impedimento.

O que ele conta deixa claro que Bolsonaro fez um passeio longo e largo pelo Código Penal e demais legislação criminal. Falsidade ideológica, concussão, prevaricação, desvio de função, desvio de conduta, crime contra a administração pública, crime contra a ordem constitucional, chantagem, ameaça a servidor público, tentativa de indução à prevaricação e etc, etc, etc.

E o mais grave, para o próprio Sérgio Moro, é que ele deixa escapar que não sairia se o presidente houvesse esperado o dia seguinte, para negociarem as novas nomeações. Coisa que os militares estavam arrumando. Mas, ao ser surpreendido pela publicação da demissão do seu subordinado, em plena madrugada, ele decidiu sair. Quer dizer, ficaria no governo, mesmo com o chefe delinquente, desde que seu prestígio fosse mantido. Delinquência que ele próprio tornou pública.

É ou não é uma República agasalhada no monturo dos adjetivos?




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