François

7 de abr de 20212 min

O desafio das palavras...

...de Manoel Onofre Júnior.

Uma delícia, no sentido mesmo gastronômico, de leitura. Para começar assim, valho-me da própria abertura do livro. Começa com a citação de Álvaro Moreyra, onde o mesmo afirmara que "come-se muito mal nos livros de Machado de Assis". Deve ser uma reportagem à pobreza culinária das referências de Machado a "iguarias" de costumeira sobriedade.

E continua Onofre: "Mas come-se muito bem nos livros de Eça de Queiroz". E faz um passeio pelas iguarias nobres e nada sóbrias do grande romancista português. Donde posso afirmar que, pela doçura marcante dessas iguarias, o diabético deve fugir. Ou pelo menos ficar só na leitura.

Nariz de cera para dizer do livro. Ou melhor, do autor. Manoel Onofre está para a literatura potiguar como Câmara Cascudo está para a cultura popular. Genial e universal, Cascudo não se moveu pelo secular. Não. Dito por ele próprio, seu interesse movedor era o cotidiano. Da mesma forma, Manoel Onofre é leitor vertical da literatura universal, da literatura latino-americana e da literatura brasileira. Mas, seu interesse de pesquisa e divulgação é a literatura produzida por aqui. As letras da capitania abandonada de João de Barros. Não se encanta de apego pelo ouro ou prata de longe, fixa-se no garimpo da nossa shelita.

O livro é uma comprovação do afirmado. Uma delícia gastronômica, com receita de letras e não de comida. Tem de tudo um pouco, ou um muito. Poesia, contos, ficção, ensaios. Onofre é um crítico de resenha, cujo alvo é a informação ao leitor. Não se arvora senhor das artes ou artimanhas de escrever. Opina, mas o faz com a serenidade de quem transmite o senso do próprio caráter. Não agride para exibir-se nem bajula para angariar agrado. Informa. E nessa seara ele é ímpar.

"O desafio das palavras" nasce indispensável para quem quiser conhecer fatos e pessoas das letras no estuário potiguar; de sertões, mares, serras e estepes. Repito, Uma delícia!

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